terça-feira, maio 04, 2021

Sobre trabalhos manuais.

 É curioso, mas parece que de repente, preciso de todo o ar do mundo. Quanto mais eu respiro, me dou conta de que preciso de mais ar. É uma tentativa tola de se lembrar viva no meio do caos. 

Quando as intermitências da vida nos recortam em pedaços bem pequenininhos, é que chega a certeza: pode-se ate recosturar, juntar os pequenos pedaços com cola Tenaz, polvilhar gliter para parecer que o remendo ficou bonito (e não é que as vezes fica mesmo?!), mas uma pequenina parte vai embora. 

Ela fica escondida entre os tacos de madeira do assoalho, e só nos damos conta quando pisamos e ela fisga delicadamente nosso pé. Coisa curiosa é quando nem nos damos conta.

O fato é que diante da angustia, da confusão mental e da vista dos cacos no chão só me lembro de respirar. Não mais o respiro de vida que gera o grito do nascimento, mas aquele que me enche de coragem para poder me reconstruir. 

Acho de uma delicadeza muito grande a possibilidade de criarmos algo inteiramente novo. Delicado, mas trabalhoso. Imagina só, pegar pedaços de si com uma pequena pinça, colar, descolar, inventar uma forma nova...

Reconstruir-se é preciso. Viver realmente nos exige algo que não cabe em nenhuma palavra desse mundo inteirinho!