Ela é cria.
Ao mesmo tempo que escrevo, entre-vejo o livro "Entre mère et fille: un ravage".
Ainda sim, ecoa a frase. Sou sua cria, e nada poderá mudar isso. Essa talvez seja uma das frases mais incomodas (infamiliar?) que me disse nos últimos tempos.
Eu sou cria de uma mulher que conseguiu fazer o que era possível. Ela fez, ela tentou e conseguiu, mas ela também me devorou.
Por vezes penso que ela ter me engolido foi a única forma dela nao ter sucumbido ao inferno que cheguei. Ou, que chegamos juntas. Ela conheceu o inferno antes de mim, mas uma forca estranha a fez seguir. Eu nunca quis seguir. Estava preparada pro sacrifício.
Eu pude ver o inferno. Eu era o inferno. A morte, a dor, o sangue... Eu era a materializacao disso.
Ate que a Morte jogou xadrez comigo.
Seria a Morte um bom codinome para um psicanalista?
Queria poder fugir do fato de ser de ser sua cria, mas a realidade é que me resta ser isso, porque é o que eu sou.
Nao é de todo mal. Mas depois de correr léguas, sinto que finalmente cheguei ao lugar de onde nunca sai.
Haverá saída?
Sou sua cria e isso nao me resigna. Algo me dá vestigios de um para-além.
Sim, sou sua cria.
Enquanto escrevo, (ainda) choro por dentro.
É con-fuso.. (5h agora?)
É choro de partida e ao mesmo tempo, de chegada.
É, por fim, ser (A Sua) cria.