quinta-feira, outubro 06, 2022

Sobre um escrito de lata de lixo

Eu não caibo mais na minha cabeça.

Esse lugar pequeno e cheio de tralhas,

já não me pertence.

Fui embora, e só percebi

depois que cheguei

em lugar nenhum.


Cidadã do mundo?


Descobri que moro

em lugar nenhum.

Desalojada,

Desmembrada,

Desmamada.


De dés em dêz,

já dei o suficiente

numa matemática 

que não fecha.


Esse (a)lugar de que me sirvo

é o mesmo 

de onde posso 

Re-nascer,

Re-escrever. 




terça-feira, agosto 02, 2022

Sobre a escrita I.

Desde sempre quis ser escritora. Lembro de achar um diário antigo onde tinha anotado o que queria ser quando crescer: psicóloga, artista e escritora. 

Nunca soube muito bem por onde começar a escrever, mas sabia que uma das minhas grandes paixões era a literatura. 

Me perdia nas palavras, conhecia novos mundos, e a cada livro novo parecia que uma nova possibilidade de existir estava ao alcance de minhas mãos. 

Comecei a escrever numa tentativa desesperada de colocar a dor para fora. Circular, dar forma, fazer caber entre letras e vazios. 

Escrevia na pele o que nem tinha palavra. Até entender que palavra a gente inventa e ainda assim nunca vai dar conta de fazer o mundo todinho caber nelas.

Hoje, em meio a travessia, estou aprendendo a brincar de inventar palavras. Colocar letra de ponta cabeça, espaços duplos… 

Palavras e línguas parecem roupa, que a gente veste e desveste, onde a gente passeia entre silhuetas e buracos.

sábado, julho 23, 2022

Sobre o Som do Vazio.

Esforço em vão

Esse de fazer caber 

Sentimentos em palavras.

Como descrever 

Trasbordações e

Envadimentos?

Crio palavras

Invento lugares

Mas tudo escapa, rápido 

Escorre, dedos, olhos, 

Se vai.

Como falar da solidão?

Ao fundo, 

TV francesa, e

Silêncios.

Eles gritam sons 

Que não gosto de ouvir.

Eles gritam 

O Som do Vazio.


Isso que sou

Esse grande vazio,

Ecoa melodia.

Canto das sereias.

Notas musicais 

Azul como o mar de Nice.


Isso fala, grita,

Invade e faz casa.

Fazer é escolha,

Dançar é convite.



segunda-feira, julho 04, 2022

Sobre transitoriedade.

 Estranho, mas dessa vez o título chegou antes do texto.


Olho ao redor,

A vida me escapa em fração de segundos.

Pisco o olho

E o instante se dissolve 

Deixando apenas um rastro,

Uma pista cega 

De um “não sei o quê”.

O minuto seguinte é incerto.

Incômodo, desconfortável. 

Preciso de pontuação 

Ritmo, métrica 

Qualquer coisa que faça a vida

Caber num pedaço de papel.

Tola. 

Não cabe.

Ela escapa entre os dedos.

E o barulho das gotas 

Orquestram o baile:

Tempo, som, dança,

Vida!


Olho ao redor.









segunda-feira, junho 06, 2022

Sobre restos.

 "Nada ficou no lugar

Eu quero quebrar essas xícaras"



Poderia escrever inúmeras cartas de amor,

mas apenas consigo

balbuciar sons.

Sou sons.

Uma musica estranha,

estrangeira,

mas, minha.

(...)

Presa de/no cativeiro,

entre palavras e afetos,

Descobri a chave.

O horror.

Por que me sobram cada vez 

menos palavras?



sábado, maio 21, 2022

Sobre o palavrear.

As vezes as palavras pulam da minha boca

Como se tivessem vida própria.

Elas voam, 

Bailam com o vento e vão se embora.


Tenho o costume de guardar as palavras

Como se fossem peças de um tesouro.

E quando elas saem, soltas,

Me assusto e choro.


Fico ao avesso de mim.


Palavra é coisa morta.

A gente é que insiste 

em dar sopros de vida.

sexta-feira, abril 01, 2022

Sobre quando caem lágrimas (e objetos).

Lágrimas escorrem pelo meu rosto.

O que aconteceu

para que agora

elas tenham vida?

Elas caem

e cada pingo vira flor.

Meus olhos ainda estão turvos,

nao enxergo bem o horizonte.

Mas enquanto caminho,

sinto a grama verde nos meus pés,

massageando

o que outrora

foram dores, machucados.

Há cores e há vida,

mas choro.

Choro todas as lágrimas 

que um dia

molharam o chao árido do deserto 

que vivia.

Choro,

e nascem flores.

Choro,

e brota vida.

 

sexta-feira, março 25, 2022

Sobre o tempo.

O tempo do mundo 

não é mais o meu tempo

segundos, minutos

O que é isso?

Tic - Tac / tic-tac 

A vida passa

Escorre entre a enxurrada de palavras e silêncios.

Sigo olhando o relógio.

Os ponteiros brincam com as batidas

Eles correm? Ou dançam?

O tempo se dissolve.

Agora o que conta os instantes 

É o canto dos pássaros

As gotas da chuva

O cintilar das estrelas no céu.

Meu tempo,

As vezes lento, as vezes corrido

Meu tempo,

Aquele que quando parece estar

Já foi.






segunda-feira, fevereiro 21, 2022

Sobre água(s) viva(s).

 De repente me vi água viva. 

Nadei dentro da minha imensidão, e depois de ir longe, entendi que nunca sai do mesmo lugar.

Naveguei. 

Vi(vi) mares, que de uma hora pra outra eram tsunamis.

Será?

Ou talvez eu mesma não sabia dar nome ao tamanho da onda?

——


De repente, não mais que de repente, a vida se impõe como uma condição. Não é possível retroceder.

Sou/ser água viva, movimento.

Qual o caminho? Não sei.

Qual a resposta? Não tenho.


Sou água que nutre, e que quando possível floresce.


Água-viva de mim. Nascente!