segunda-feira, abril 30, 2007

Sobre a aula de Psicopatologia.

Preocupante:

noventa
e nove
virgula nove
por cento
da população

é figurante.

De Nildão, por Moura.




É.
Ser.
Ser figura-ante.
Ser não.
Não ser.

quinta-feira, abril 26, 2007

Sobre um devaneio.

O dia estava ensolarado.. uma delícia de clima.. muito sol, e um calor estranhamente agradável. Aquele era mesmo o seu dia. A praia estava linda.. o mar, as ondas, até a espuma das águas estavam diferentes. No fundo sentia que alguma coisa lhe aconteceria, porque, é sempre assim que acontece nas melhores famílias.. Distraída, passou horas a olhar o mar, somente pensando nas coisas que iam e vinham, que vinham e iam, como as ondas. Chegou por um momento a lembrar das dores, dos amores, e de como o sofrimento era inútil. Sentia sede. Levantou-se em busca de água. Estranho estar em frente ao mar e ter sede. Tanta água. Água pra matar a sua sede, e a sede do mundo inteiro. Mas de nada servia, haveria de procurar outro caminho a seguir em busca de algo que aliviasse essa sensação que já se tornava incomoda, boca seca, necessidade de água [doce]. Encontrou, comprou, bebeu, sentou, e voltou a pensar. Mas, como já não queria pensar em nada, se pôs a somente olhar. "É mesmo lindo né?", disse uma voz doce que vinha de perto.. muito perto. Virou-se e afirmou: é.. é.. Sentaram-se perto, e conversaram durante toda uma tarde. Conversa das boas. Infância, amigos, farras, estudos, responsabilidades, decepções, alegrias, saudade. E que saudade. Olhavam-se. Olhavam-se muito; como se pudessem penetrar na imensidão que existia para além daquelas pupilas, dos nervos ópticos, do cérebro.. Existia sim, e quem havia de dizer que não? Conversavam como se já se conhecessem há anos, amigas de escola, confidentes íntimas, quase da mesma família. Mas, apenas se conheciam durante a pequena eternidade de 4 horas. E finalmente, voltaram a olhar o mar. Agora já não haviam mais palavras, sons, risadas, apenas o barulho do mar e a vista de um maravilhoso fim de tarde. E por mais que não dissessem uma palavra se quer, se comunicavam tão intensamente, num ritmo constante. Voltaram a se olhar. Penetraram-se, dessa vez buscando respostas naquelas profundezas que viam. Aos poucos, já não importavam mais tantas respostas, nem as perguntas, nem o mar, nem o céu, nem o doce barulho das ondas. Beijaram-se. Numa aurea de cor e luz se encontravam enfim, dentro de suas próprias dúvidas, e de suas certezas. Tocava-se corpo, alma, mente, tornavam-se uma só. De longe, o mundo agradecia com um lindo pôr-do-sol, que deixava o céu rosado e até mesmo os raios brilhantes do sol explodiam como fogos de artifício por um encontro esperado durante várias eternidades.







- Atenção para a chamada! Aninha?
- Presente.
- Bruno?
- Aqui.
- Maria? [...] Maria?

sábado, abril 21, 2007

Sobre uma falta II.

Sentindo a falta do que nunca tive,
-uma solidao leve e passageira-
de momentos que jamais existiram
ou existirão.
Sendo a falta intrinseca a seres [humanos],
comemoremos a falta do do que nao veio
mesmo quando deveria ter vindo.
A falta de vida e vivacidade,
quando se possui a ilusao de ter havido.
A falta do nada,
se é que o tem para preencher-se.
A falta de ser, de ter..
E de um dia se quer, poder.

sexta-feira, abril 13, 2007

Sobre a menina do espelho.

* É quando não se dá mais jeito.. Quando se perde, mas se acha.. Quando não se tem, no entanto mais se possui.
- É o passado no presente?
* É o seu mundo.
- Vazio?
* Não habitado.
- Vazio.
* Impenetrável.
- Cifrado.
* Impenetrável?
- Em busca da chave.
* Existe?
- Existe.

[silêncio]

* Pistas?
- Sem sinal delas.
* Sem sinal delas?
- Medo do encontro.
* Medo altruísta?
- Se é que existe, sim.
* Medo do invisível?
- Sim.
* Do intolerável?
- Sim.
* Do que é fluido?
- Sim.

[silêncio]

*Do espelho?

[silêncio]

[silêncio]

- Sim.

terça-feira, abril 03, 2007

Sobre o que se vai.

E a vida passa
E a gente chora
E a gente grita
E a gente morre
E a roda gira.

E a vida passa
E a gente levanta
E a gente vive
E a gente bate
E a roda gira.

E a vida passa.






"Ah, se eu fosse marinheiro..." (Adriana Calcanhoto)