quinta-feira, abril 26, 2007

Sobre um devaneio.

O dia estava ensolarado.. uma delícia de clima.. muito sol, e um calor estranhamente agradável. Aquele era mesmo o seu dia. A praia estava linda.. o mar, as ondas, até a espuma das águas estavam diferentes. No fundo sentia que alguma coisa lhe aconteceria, porque, é sempre assim que acontece nas melhores famílias.. Distraída, passou horas a olhar o mar, somente pensando nas coisas que iam e vinham, que vinham e iam, como as ondas. Chegou por um momento a lembrar das dores, dos amores, e de como o sofrimento era inútil. Sentia sede. Levantou-se em busca de água. Estranho estar em frente ao mar e ter sede. Tanta água. Água pra matar a sua sede, e a sede do mundo inteiro. Mas de nada servia, haveria de procurar outro caminho a seguir em busca de algo que aliviasse essa sensação que já se tornava incomoda, boca seca, necessidade de água [doce]. Encontrou, comprou, bebeu, sentou, e voltou a pensar. Mas, como já não queria pensar em nada, se pôs a somente olhar. "É mesmo lindo né?", disse uma voz doce que vinha de perto.. muito perto. Virou-se e afirmou: é.. é.. Sentaram-se perto, e conversaram durante toda uma tarde. Conversa das boas. Infância, amigos, farras, estudos, responsabilidades, decepções, alegrias, saudade. E que saudade. Olhavam-se. Olhavam-se muito; como se pudessem penetrar na imensidão que existia para além daquelas pupilas, dos nervos ópticos, do cérebro.. Existia sim, e quem havia de dizer que não? Conversavam como se já se conhecessem há anos, amigas de escola, confidentes íntimas, quase da mesma família. Mas, apenas se conheciam durante a pequena eternidade de 4 horas. E finalmente, voltaram a olhar o mar. Agora já não haviam mais palavras, sons, risadas, apenas o barulho do mar e a vista de um maravilhoso fim de tarde. E por mais que não dissessem uma palavra se quer, se comunicavam tão intensamente, num ritmo constante. Voltaram a se olhar. Penetraram-se, dessa vez buscando respostas naquelas profundezas que viam. Aos poucos, já não importavam mais tantas respostas, nem as perguntas, nem o mar, nem o céu, nem o doce barulho das ondas. Beijaram-se. Numa aurea de cor e luz se encontravam enfim, dentro de suas próprias dúvidas, e de suas certezas. Tocava-se corpo, alma, mente, tornavam-se uma só. De longe, o mundo agradecia com um lindo pôr-do-sol, que deixava o céu rosado e até mesmo os raios brilhantes do sol explodiam como fogos de artifício por um encontro esperado durante várias eternidades.







- Atenção para a chamada! Aninha?
- Presente.
- Bruno?
- Aqui.
- Maria? [...] Maria?

Um comentário:

m disse...

'Conversa das boas. Infância, amigos, farras, estudos, responsabilidades, decepções, alegrias, saudade.'

acho que nunca vou ter o prazer de uma conversa boa..