terça-feira, novembro 17, 2020

Crônica de um dia de chuva e engano

O dia já começou estranho. Havia indícios de que nada sairia tão bem como o planejado. Levantou cedo, olhou as redes socais, e tentou se enganar achando que conseguiria dormir mais um pouco, afinal de contas parecia desnecessário despertar às 6 da manhã. Não adiantou.

Insistiu na possibilidade de tentar fazer o dia caber dentro de metas e planilhas. Insistência era um de seus nomes. Lembrou-se que ainda havia uma chance de fazer o dia recomeçar perfeito: a nova térmica de café estava pronta pra ser inaugurada. Nela continham as promessas de que, quem sabe, a mágica da felicidade finalmente invadisse o seu dia porta a dentro.

Preparou-se para o tão esperado café. Tomou banho, penteou-se devagar, afinal de contas, o dia só estava começando. Vestiu-se num tom casual esportivo e até treinou um sorriso antes de sair do banheiro.

Chegou a hora do café. Água quente e café em pó. Tudo a postos para usar a nova térmica. Passou o café e nem se permitiu sentir aquele cheirinho que tanto agradava. Na verdade, também não viu a água descendo pelo pó de café no filtro, coisa que tinha uma singularidade estranha, mas que a deixava feliz. 

Térmica, café, xícara. Pronto. O cenário estava pronto para dar as boas vindas à felicidade e ao novo dia que iria começar de novo. Provou o café. Foi ali, justamente naquele instante, que se deu conta que não era a térmica, nem o café, nem o dia, nem a manhã... O dessabor que habitava a sua boca acabou contaminando todo o corpo.  Era uma espécie de infestação que ia se espalhando pelos sentidos de uma maneira sorrateira, mas insistente. Pareceu um tanto de repente, mas não foi. Percebeu-se um tanto quanto daltônica. Estaria o dia de fato cinza? Cheiros e sabores se tornaram lembranças. 

Se percebeu viva porque seus olhos piscaram. Silêncio. A chuva começou a cair, mas ainda não sabia direito se eram pingos de chuva no chão da rua fria ou se eram lágrimas caindo na sala repleta de nadas.

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